sábado, 12 de novembro de 2011

O tempo.

Minutos que se passaram. Dias que não mais se apagarão de nossas memórias. Aqueles poucos segundos de sorriso e felicidade desmontaram toda angústia e dor. 

Tempo, te contemplo pelo que fostes. E pelo que não mais sou. No saudosismo das palavras, encontro minha razão de existir no hoje.

E tu segues em fluxo constante. Caudaloso e incerto, a escrever o futuro de todas as criaturas. Que de ti posso esperar? Que sonhos realizarei? Que tristezas provarei? 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Eco


E era uma vez uma palavra.


E esta foi lançada ao vento, em direção aos quatro cantos da terra aos ouvidos de todos os seres humanos. Campos agricultáveis ou solos rochosos, longa jornada percorreu e semeou-lhes. 

Não mais retornará de onde partiu. E foi-se, indominável. Atingiu corações e mentes, inocentes ou não. Despertou ou recrudesceu almas. Mas era uma simples palavra até então.

Que significado se dá a ela? A magia de recriar todas as coisas em cada sílaba. O devaneio ou a racionalidade, o sonho e a concretude, esta palavra carrega a energia transformadora, do que é, do que se pensa ser e do que se deseja ser.

E da palavra, nasceu uma frase e na harmonia da mais sublime composição mozartiana, se fez literatura. E se fez vida interior.

De nossas mentes, agora se pode ouvir um grito incessante que diz: ouça a si mesmo! 

E o silêncio se fez. Não o silêncio sepulcral. O silêncio da sabedoria, que ouve e que fez da palavra escutada brotar um dicionário de tudo que realmente importa para sua vida e que dá a ela razão de existir.

Que palavra é essa? Talvez as atribulações do cotidiano nos tenham tornado um tanto surdos, de corpo e alma. Mas um dia a ouviremos. Seja ela qual for, nos trará um destino. De incertezas ou de glórias. E palavras são apenas palavras. E tornam-se vivas quando são praticadas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ícaro.



Lançei-me para além das nuvens em uma épica jornada, rumo ao desconhecido. Asas da liberdade se abrem. Meus caminhos foram traçados pelo destino e ao seu encontro estou em busca. A melancolia de deixar o ninho acolhedor toma conta de meu espírito, mas é hora de alçar voo, como as aves do céu. E assim, ganhei altitude. Nenhuma barreira se mostrou diante de mim.

Do horizonte, vi que uma tempestade estava se aproximando.
Ventos sopravam com força em minha direção. E não podia mudar o curso de minha longa e solitária jornada.

-Que farei agora?
Interroguei-me.

- Baterei cada vez mais forte as minhas asas. Voarei assim o mais alto que puder.

E logo notei que cada vez mais o chão se distanciava de meus pés. Tudo tornara-se minúsculo lá embaixo. Nada se ouvia de gritos e lamúrias. Casas e prédios pareciam miniatura. O silêncio absoluto imperava, de forma que podia escutar unicamente a minha respiração.

E após alguns instantes de contemplação, lembrei que minhas asas eram de cera. Percebi que estava acima daquela tormenta. Nada mais podia ver abaixo de mim. Olhei para cima e vi o sol, em toda sua imponência. Interroguei-me: 

- Que farei?
E uma voz me disse:

- Continue voando, as tormentas logo passarão. E em alguns instantes você poderá descer em segurança para reparar sua asa.

Olhei para baixo e pude visualizar o chão. Não mais haviam nuvens pesadas e podia então me recompor em solo. Ao me aproximar de uma colina, uma das asas ameaçou quebrar. O medo da morte tomava conta de mim. Eis que ela se partiu. Cai de aproximadamente uns 15 metros de altura por sobre as águas límpidas de rio. Agarrei-me a um tronco de árvore e nadei em direção à margem direita. Escapara, sem nenhum ferimento, mas com muitas lições que só com o tempo poderei compreendê-las.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Esparta

Tropas marcham por montanhas e vales. Não há nos soldados qualquer semblante de medo ou temor. Cruzam o mar Egeu até chegarem nos distantes campos de batalha no norte. De repente, falanges se levantam. Ouve-se vozes inclementes clamando por sangue. Sempre a guerra nos ronda. A batalha pela sobrevivência. A resistência à tirania do mais forte. Ou a covardia dos que se acham semi-deuses. Matar ou morrer. Condenar-se à escravidão ou libertar-se das teias de dominação, visíveis elas sejam ou não.

E o verde campo que outrora brotava trigo e cevada torna-se vermelho de ignomínias, graças à cólera humana. Vidas se desfazem sem nenhum remorso de seus algozes. Histórias encerradas em um triste e brutal capítulo tramado por conspirações no Olimpo. O vencedor triunfa por sobre cadáveres até que um dia a deusa fortuna lhe queira mal visto.

Aquiles

Por mais que nos consideremos infalíveis, há sempre algo que nos torna vulnerável. Inimigos atrozes são imperdoáveis e bons observadores, logo identificarão nossos pontos fracos. E nós, blindamo-nos de nossas próprias fragilidades. Ou algumas vezes somos reféns delas. Relutamos em aceitá-las como um primeiro passo para superá-las, pois buscamos a glória de um semi-deus e nos projetamos como tal. Nossos poderes são efêmeros e com o tempo perceberemos que nossas armas não são tão poderosas quanto imaginávamos. E bate a frustração, o medo e a insegurança. O temor de ver o futuro desejado ser esfacelado em mil pedaços como uma taça de cristal ao cair no chão. Que faremos diante da triste condição humana que nos condena às manipulações maquiavélicas dos deuses do Olimpo? Aquilo que for possível. Não parar com a nossa jornada.

Olimpo

Glória aos deuses do Olimpo, que brindam a cólera semeada entre os mortais. Neste banquete tragicômico,  nosso sangue é servido em taças de ouro. E digerido cada gota. Nosso trabalho, nossas virtudes, nossos sonhos, nada importam. O que somos para os que lá habitam? Meros atores coadjuvantes, cujas histórias de vida são escritas por suas vontades e caprichos. Cabe-nos assim a resignação à triste condição humana por  eles desenhada. Cômodos estamos e permaneceremos em nossa caverna de Platão. Impedidos somos de enxergar os que devoram nossas vísceras. Somos como Prometeus acorrentados, que não sentimos as aves de rapina consumirem nossos fígados!

É possível libertar-se de tal sina? Sim. A busca da verdade. A essência do que parece ser e não é. Desiluda-se com o embrulho. Enxergue a essência das coisas.

Hércules.

Lutar, o destino manifesto de todo guerreiro. Imortal sou como meu pai, que habita e comanda o Olimpo. Desde cedo, busco a glória de um bom combate. Não nasci para aceitar a derrota. Tenho espírito aventureiro e desbravador. Pelo solo árido da Grécia caminho, ainda que sem um  rumo certo. Descalço e cansado estou. Devo descansar? Não. Devo seguir adiante. Hera, cruel e vil está à minha procura.  

Juntar-me-ei à legião de espartanos de todas as pátrias, de todos os lugares. Formaremos um só exército de vitoriosos. Inimigos se prostrarão. Marcharemos sobre desertos e pântanos de incertezas. E na crença de vencermos, celebraremos o banquete das conquistas.  Liras entoarão as mais suaves melodias.

Afrodite.

Vejo, num simples sorriso teu, um novo mundo se abrir.  Tapete vermelho a mim se direciona. E eu, trêmulo andarilho, dou nele os primeiros passos. E minutos se passam nesta breve caminhada. Que poderei eu, jovem Aquiles, encontrar ao seu final? O tempo não me importa, pois sempre o desafiei. E então se encerra meu andar. Encontro-me com a razão de minha existência. Diante dela, vejo-me como nunca antes me vi. Mãos sobrepostas às suas eu coloquei. Posso sentir o pulsar do seu coração. A cada batida, um vulcão de sensações ameaça entrar em erupção. Ventos e tempestades nos uniram pelo heroísmo ao desafiá-los. E aqui estamos nós, contemplando o amor. Puro e ingênuo. Sincero e fraterno. Que nenhum exército será capaz de aniquilá-lo.